A teologia mariana dos Padres da Igreja Latinos: período pré-niceno.
Este texto é um fichamento introdutório de um artigo escrito por Dom Vital Corbelini, Bispo de Marabá, Mestre e Doutor em Teologia pelo Instituto Patrístico Augustinianum(Roma). Pós-doutor em História da Igreja Antiga pela Universidade Gregoriana. O artigo tem como título " A Visão de Maria nos Padres Latinos até o século V". Este texto não é um escrito original meu, portanto. Resume alguns tópicos que me chamaram atenção no artigo, e que espero poder aprofundar e desenvolver depois.
Nesta postagem, que faço no dia de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, espero deixar claro duas questões: a primeira, é a de que o lugar de Maria na história da salvação não é uma preocupação medieval, inventada, mas ao contrário: estava no cerne do pensamento dos primeiros cristãos, dos sucessores direitos dos apóstolos. O ensinamento mariológico neste período foi desenvolvendo-se sobretudo a partir da interpretação das profecias do Antigo Testamento e de alguns versículos do primeiro capítulo do Evangelho de Lucas. Segundo, que esta questão, não é uma questão acidental, irrelevante. A honra à Maria como Theotokos(Mãe de Deus), a Gratia Plena, a Kecharitoméne( plena, cheia de graça) sempre foi, desde os primeiros séculos, uma questão tida com grande fé pela universalidade dos cristãos. Aqui, por exemplo, para enfatizar esta verdade, coloco somente alguns autores, e só os que viveram antes do ano 325 d.C, ou seja, os que mais de perto ouviram e guardaram o ensinamento de Cristo transmitido pelos apóstolos. Que conhecer o pensamento mariano dos primeiros cristãos nos leve à crescer o nosso amor à Mãe do Salvador.
Dedico esta postagem especialmente à meus amigos protestantes, e espero que possam ter interesse em se aprofundar nos Padres da Igreja, guardiões fiéis da Fé deixada-nos por Cristo e transmitida fielmente pelos Apóstolos, colunas da Igreja por Ele fundada.
- Santo Inácio de Antioquia(35-108 d.C)
- Discípulo direto de São João, o Evangelista.
- Sucessor de São Pedro na Igreja de Antioquia como Bispo.
- Martirizado em Roma.
- Primeiro a inserir a doutrina mariológica no patrimônio dogmático da Igreja: a dupla geração do Verbo, eterna, por parte de Deus Pai, e terrena, por Maria.
- São Justino de Roma(100-165 d.C)
- Mártir em Roma por volta do ano de 165 d.C.
- Primeiro a traçar o paralelo Cristo-Adão e Maria-Eva.
- "De fato quando ainda era virgem e incorrupta, Eva, tendo concebido a palavra que a serpente lhe disse, deu a luz a desobediencia e a morte. A virgem Maria, porém, concebeu fé e alegria quando o anjo Gabriel lhe anunciou a boa notícia que o Espírito do Senhor viria sobre ela e que a força do Altíssimo e cobriria com a sua sombra, através do que o santo que dela nasceu seria o Filho de Deus."
(Justino de Roma, Diálogo com Trifão,n.100) - Para Justino, a concepção virginal de Jesus era estreitamente ligada à sua filiação divina.
- Santo Irineu de Lião(130-202 d.C)
- Aprofundou mais do que qualquer autor o tema do paralelo Maria-Eva e Cristo-Adão.
- Insistencia na profecia de Isaías 7,14: sinal da Virgem que se tornou, pela sua obediência, colaboradora da salvação humana.
- " ´Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo tua palavra´, e em contraste, Eva, que desobedeceu ainda quando era virgem. Como esta[Eva] pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano causa de morte, assim Maria, tendo por esposo quem lhe fora predestinado e sendo virgem, pela sua obediência se tornou para si e para todo gênero humano causa de salvação(causa salutis)."
(Irineu de Lião, Contra as heresias, III,22,4) - A ideia de recapitulação(recirculatio).
- "Recapitular significa devolver ao princípio todas as coisas, leva-las ao regime que ao princípio tinham, de modo que em Cristo Jesus tudo foi recapitulado, princípio e fim de todas as coisas, alfa e omega".(Dom Vital Corbelini, p.20)
- Cristo-Adão e Maria-Eva: se em Eva até Maria houve um caminho de pecado e de morte, de Maria até Eva houve um caminho de salvação e de amor, aberto e restaurado por Cristo. Adão em efeito foi recapitulado em Cristo, para que o mortal fosse absorvido na imortalidade; Eva foi recapitulada em Maria, para que a virgem desatasse os nós com a sua obediência à outra virgem que os fêz pela sua desobediência.
( Dom Vital Corbelini, p.20-1) - Tertuliano(160-220 d.C)
- Afirmava a virgindade perpétua de Maria, seja antes como depois do parto.
- Maria como segunda Eva.
- "Eva ainda era virgem quando ouviu pelas orelhas a palavra sedutora que devia erigir o edifício da morte. Ocorria da mesma forma que fosse introduzido em uma virgem o Verbo de Deus que devia reconstruir o monumento da vida, de modo que aquilo que foi arruinado pelo mesmo sexo, pudesse ser recuperado para a salvação. Eva acreditou na serpente; Maria acreditou em Gabriel. A desventura que uma atirou com sua credibilidade, a outra devia cancela-la com a sua fé."
(Tertuliano, De Carne Christi, 17) - Maria e a Igreja
- " A doutrina de Tertuliano realçou a relação Eva e Maria e também Maria e a Igreja, que entraram no plano de salvação, juntas são mães e conceberam virginalmente. Para ele, Eva é figura de Maria, não equivalendo a Eva, figura da Igreja. Eva, figura de Maria, é a virgem tentada e é desobediente; Eva, figura da Igreja, é a mulher formada da costela de Adão, no caso o novo Adão, Jesus Cristo. A Igreja, esposa do novo Adão, Jesus Cristo, apareceu como verdadeira mãe dos viventes."
(Dom Vital Corbelini, p.24)
FONTE:
Dom Vital Corbelini, A Visão de Maria nos Padres Latinos até o século V, in: Catholica. Revista Academica da Faculdade Católica de Belém. A identidade e a missão de Maria na história da salvação. Simpósio Internacional de Mariologia-2017.
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